Contos

Como surgiu "Alice no País das Alices"

Alice no País das Alices surgiu com Laura Alice

     Todo mundo a chamava de ‘Laurinha’. Talvez porque fosse miúda para seus onze anos. Era ruiva e quieta - serena mesmo!  - preferindo muito mais observar do que correr, jogar, suar como a maioria naquele turno escolar. Aliás, não se ouvia muito a sua voz ou sua risada. Mas um sorrisinho seguidamente habitava seu rosto, mostrando muito senso de humor...
     Naquela tarde, eu fazia meu turno de trabalho na Biblioteca, onde Laurinha era assídua. Mas também muito seletiva: às vezes preferia ‘folhear’ livros  com gravuras (geralmente com assuntos ligados às Ciências)  e as raras revistas á disposição.  Ou então sentava-se com os ‘Dicionários’, forcejando para levá-los da prateleira à mesa e vice-versa. Porém, quando gostava de um dos livros escolhidos para empréstimo, retirava-o mais de uma vez, repetindo a dose às vezes até com algum exagero. Ultimamente, o escolhido era Alice no País das Maravilhas: retirava-o sistematicamente já há cinco semanas. Tanto eu como os professores que atendiam à Biblioteca nos horários sobrantes das aulas, já havíamos notado o fato, mas não tínhamos  interferido. Ainda bem! Então, naquela tarde, como eu dizia, Laurinha se aproximou do seu jeito, livro na sacolinha de pano. Eu já puxava sua ficha, quando ela falou baixinho:
- Professora, posso fazer uma pergunta?
- Claro, Laurinha!
-Mas a senhora promete responder bem verdadeiramente?
     Levantei os olhos da ficha, já meio surpreendida:
- Se eu puder...
- O problema é esse – retornou Laurinha, surpreendendo-me definitivamente.- Não sei se alguém pode. Pelo menos de verdade bem verdadeira.
-Ah! – fiz levantando as  sobrancelhas e assim aumentando os olhos para melhor vislumbrar o que ela quereria expressar. – E qual é a  pergunta?
- É que eu também me chamo Alice, no segundo nome, como a Alice do livro...
- Sei, sei... E então?
-Então, se o livro foi escrito e descreve tão bem o país, é porque ele existe, não é? Então eu queria saber como posso ir lá. A senhora sabe?
-Ir ... lá, Laurinha? Onde você quer ir?
- Mas... Eu disse já, não disse?! Estou falando no País das Maravilhas... Preciso falar com aquela Alice: tem uma coisa que eu sei e que ela precisa saber, se ainda  está por lá, vai ter que me ouvir...
     Na época, eu não soube mesmo responder de verdade bem verdadeira, embora tivesse tentado, falando que ‘se pode ir onde se queira pelas asas da imaginação’ e  mais isso e aquilo e tal.
     Laurinha deve ter trinta e tantos anos hoje? Imagino que sim, se estiver ainda por aqui nestes tempos líquidos, onde sequer a vida tem valor com alguma solidez. Para você, Laura Alice Soelbowny  da  Silva, escrevi este A lice no País DAS ALICES.

 - Espero que o que você queria  dizer ÀQUELA ‘ALICE, a Literária’, eu tenha dito de alguma forma no livro, Laurinha!
 e com todo O respEito por Ela, por vocÊ e por todas as Alices
e Crianças - Alice que não querem só se vestir E IMITAR barbIES e Poposudas!
ou passar a vida na PERFORMÁTICA liquidez de smartfones, I-PHONES

OU  entubadas nas telas virtuais. ou...SEI LÁ... 

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